Critica | Fantastic Mr. Fox (O Fantástico Sr. Raposo) — 2009
O filme que marca a estreia do diretor Wes Anderson, no mundo das animações é excepcional. Fantastic Mr. Fox (O Fantástico Sr. Raposo, no Brasil), é um deleite audiovisual que possui todas as características já consolidadas do diretor quanto a cores, simetria e trilha sonora e com um desenvolvimento bastante envolvente e divertido. Esta produção rendeu a Anderson duas indicações ao Oscar, nas categorias de “Melhor Trilha Sonora Original e “Melhor Animação”.
É quase um “pecado” resumir O Fantástico Sr. Raposo a apenas mais uma animação, pois este filme com certeza, está no mesmo nível de importância dos longas do diretor Henry Selick, por exemplo, como Coraline e o Estranho Mundo de Jack, que são verdadeiros clássicos do estilo stop-motion, embora sejam estilizados de forma completamente diferentes. O diretor Henry Selick, curiosamente estava no desenvolvimento do projeto, juntamente com Wes Anderson, porém foi contratado para dirigir o filme já citado, Coraline, que estreou no mesmo ano.
A partir do que já foi dito anteriormente quanto a direção de Wes Anderson, é necessário ressaltar a qualidade e competência existente nessa obra. O uso das cores, a qualidade da direção de arte, os movimentos de câmera maravilhosos, o esmero com que cada cena é construída e montada são fatos que exemplificam o quão bom tecnicamente é O Fantástico Sr. Raposo. Anderson também assina o roteiro juntamente com Noah Baumbach, que já havia trabalhado com o diretor anteriormente em The Life Aquatic with Steve Zissou.
O nível aqui é altíssimo, um roteiro divertido, com um senso de humor que eleva o nível da história. A entrada de novos personagens enaltece ainda mais o conjunto da obra e torna a trama ainda mais envolvente. A interação de Kristofferson e Ash é única, divertidíssima e consegue sustentar o roteiro quando o protagonista não está em cena, o que prova o quão bom é o desenvolvimento de personagens coadjuvantes na obra. Todos desempenham o seu papel na história e a originalidade de cada figura faz com que seja possível acompanhar todas as cenas com um imenso prazer.
O filme é baseado no livro homônimo de Roald Dahl e conta a história do Sr. Raposo que descumpre a promessa feita a sua esposa e invade a fazenda de seus vizinhos para roubar, com o objetivo de alimentar a família e amigos. A premissa é simples, visto que, a história originalmente tinha como público-alvo crianças. Porém, durante o longa é possível perceber a temática adulta que o filme aborda, desde linhas de diálogos ousadas e descontraídas, algo que é comum nos roteiros de Wes Anderson, até na mensagem por trás da obra que abre espaço para ótimas discussões quanto a aceitação da própria natureza e essência, e se manter leal às origens.
Contudo, acredito que a produção tem problemas para manter o ritmo atrativo para o público infantil e acaba fazendo muito mais sentido para os espectadores adultos, pois o estilo de animação e abordagem adotada nos diálogos e na trama talvez não favoreça o gosto das crianças. Assim, mesmo com cores vistosas, ótimos personagens e aquele sentimento lúdico de aventura, a obra é responsável por afastar, muito levemente, certo público. Portanto, isso não tira o fato da produção em stop-motion ser uma obra de arte que com certeza entra na lista de melhores filmes do diretor Wes Anderson.
Todo elogio é pouco para o trabalho de dublagem da obra. Adotar uma forma de captação de voz mais orgânica foi um grande acerto e deixa tudo mais real. As melhores performances ficam por conta de George Clooney como Mr. Fox e Willem Dafoe como Rat, é claro o quão impactante são as personalidades dos dois personagens e o quanto a história em torno deles é bem construída, fazendo com que haja um grande espaço para os dois dubladores trabalharem. Definitivamente é um filme para se assistir no áudio original, pois uma parte de seu brilho está aqui, com certeza.
A trilha sonora original que rendeu indicação ao Oscar a Alexandre Desplat se encaixa perfeitamente no filme e traz uma ótima dinâmica para as cenas, sejam elas mais intensas ou mais calmas. A escolha das músicas, como de costume contam com canções do Rolling Stones e vão de Beach Boys a Mozart e dão uma elegância a mais, coisa que o longa tem de sobra, desde o figurino do Sr. Raposo até o uso das cores na tela.
O Fantástico Sr. Raposo é um primor. É uma obra valiosa por unir tão bem tantos assuntos. Um roteiro que abrange discussões muito pertinentes, algo que Wes Anderson adora fazer em suas histórias e ao mesmo tempo é fiel e respeitoso a sua história original, que é o livro de Roald Dahl. Um longa criativo e feito com muito esmero.
NOTA: 9/10
