Crítica | Oppenheimer — 2023

Cinema Show
6 min readJul 27, 2023

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Um dos filmes mais aguardados de 2023 finalmente chega aos cinemas. Oppenheimer, a nova realização de Christopher Nolan é gigante, denso e muito emocionante. Sem dúvida, uma das maiores produções do ano.

É normal ter tantas expectativas para esse longa, afinal, estamos falando de Christopher Nolan, um dos diretores mais conhecidos da atualidade. Dessa forma, mesmo que existam pessoas que digam que o diretor é superestimado, e que seus filmes são desnecessariamente complexos e servem apenas para sustentar o status quo erudito e até mesmo chato de uma bolha cinéfila. Assim, não penso que seja justo resumi-lo a isso, Christopher Nolan tem uma carreira muito bem-sucedida como realizador, filmes de qualidade excepcional e com sucessos absolutos de bilheteria, como The Dark Knight (Batman: O Cavaleiro das Trevas) e Inception (A Origem), por exemplo. Enfim, pode ser que, nem sempre Christopher Nolan atinja o grande público, mas sua qualidade como diretor é inegável.

Deste modo, adianto que Oppenheimer é muito bom. Uma cinebiografia que eleva os padrões de qualidade do gênero e que merece ser vista na melhor sala de cinema possível.

Dessa forma, ao falar de Oppenheimer é imprescindível comentar sobre o marketing estonteante da Universal. Tivemos estandes com a contagem regressiva para a estreia do filme nos cinemas, trailers extremamente bem montados e de muita qualidade.

Portanto, é sabido que a semana de estreia de Oppenheimer e Barbie já se tornou um marco histórico. Desde a estreia de Homem-Aranha: Sem Volta Para Casa, não houve tanto engajamento para ir ao cinema como agora. É revitalizante ver filmes totalmente desvinculados de realizações da Marvel e super-heróis em geral, ganharem tanto espaço nas salas de cinema e nas mídias sociais. Mas espere, não estou dizendo que este evento irá salvar ou já salvou o cinema, pois filmes como esses são pontos totalmente fora da curva. São necessários muitos outros filmes como Barbie e Oppenheimer para que este mercado esteja completamente em paz.

Por conseguinte, ainda é necessário comentar sobre um ponto muito interessante sobre o marketing de Oppenheimer. É incrível como uma competição definitivamente se torna saudável, a ponto de se transformar também em uma brincadeira. Barbenheimer aconteceu na terceira semana de julho de 2023 e era possível ver discussões sobre qual filme assistir primeiro, qual levaria mais público ao cinema, entre outras coisas. Um tremendo engajamento gerado por esse grande evento. E talvez o mais curioso seja o fato de que, o sucesso de Oppenheimer está diretamente ligado ao hype e ao marketing de Barbie, visto que o novo filme de Greta Gerwig, produzido pela Warner Bros. teve um custo de marketing de 150 milhões de dólares. Com um custo de divulgação e marketing um pouco menor, Oppenheimer consegue ótimos resultados se comparados com Barbie devido sua estratégia de projeção e temática, que talvez seja um pouco mais restritiva. Deste modo, nota-se que, o longa de Christopher Nolan surfou na onda de Barbie, obteve ótimos números de bilheteria e realizou a façanha de furar a bolha de pessoas que estão por dentro da indústria do cinema.

No novo filme de Nolan, o físico J. Robert Oppenheimer, trabalha com uma equipe de cientistas durante o Projeto Manhattan, resultando no avanço e criação da bomba atômica.

Não irei entrar em méritos quanto ao processo de adaptação feito por Christopher Nolan do livro “Oppenheimer: O triunfo e tragédia do Prometeu americano”, porque ainda não fiz a leitura da obra, mas pretendo, pois é um livro muito conceituado e vencedor de vários prêmios e o tema me atrai bastante. Dito isso, o roteiro adaptado por Nolan é denso e prolixo e confesso, um pouco cansativo em sua introdução. É uma obra que levou um tempo para me conquistar totalmente, acredito que por tratar de muitos temas de uma vez, diretamente no início, mas após a primeira hora da rodagem, o longa se torna simplesmente excepcional. O filme se veste com uma tensão que dura até o final, tudo aqui é exacerbado, carregado e profundo. O filme tem uma abordagem não linear, reflexiva e até mesmo filosófica em determinados momentos e trabalha bem com isso ao retratar o envolvimento de Oppenheimer com o comunismo, toda a política no período de guerra e, principalmente, sobre a como bomba atômica marca o fim da 2ª Guerra Mundial e transaciona para o período de Guerra Fria. Esses fatos levam a tragédia e ao impasse no psicológico do personagem interpretado por Cillian Murphy.

O uso do primeiríssimo plano para ressaltar os dilemas morais enfrentados pelo protagonista é muito interessante e nos mostra que o J. Robert Oppenheimer é um ser humano, falho e que carrega um peso muito grande pelos seus atos. E definitivamente, tudo isso passa pela atuação de Cillian Murphy, um dos pilares para o andamento de Oppenheimer. Cillian é um ator talentosíssimo que merecia, e muito um palco como esse para brilhar e realiza uma interpretação magistral, em minha opinião. As pequenas expressões do personagem, o olhar extremamente preocupado e as questões morais são executadas por ele de forma brilhante.

Fiquei bastante admirado com a qualidade de interpretação, do ator Matt Damon como General Groves. O longa sobe de nível com suas aparições, pois ele representa uma urgência que chega a tirar o fôlego do espectador. O ator Robert Downey Jr. interpreta um personagem fundamental para a história e está muito bem no filme. Ele sustenta boa parte do arco final e a insensibilidade que ele consegue expressar durante suas cenas é de muita qualidade. Emily Blunt, que interpreta a esposa de J. Robert Oppenheimer, por sua vez, está bem no papel e brilha muito em algumas partes do filme, principalmente no terceiro ato, mas com certeza poderia ter sido melhor desenvolvida. Assim como, Florence Pugh que faz uma personagem muito importante na vida do protagonista, mas que recebe pouca atenção. Acredito que parte dessa falta de desenvolvimento de personagens coadjuvantes que pesa negativamente a obra, se dá, é claro, pelo interesse pessoal do diretor na figura de Robert Oppenheimer, seus atos e na temática política que ele abrange durante todo o tempo de rodagem.

Existem grandes acertos no novo longa de Christopher Nolan e preciso destacá-los aqui. A montagem é incrível e mesmo com um roteiro não linear, ainda é possível saber o que tal cena quer nos contar e em qual período ela está, ainda que seja um pouco complicado se situar, devido ao roteiro pouco expositivo de Nolan. É impossível não mencionar os “jumpscares sonoros” durante o filme, eles são muito bem-posicionados durante a rodagem, criam uma atmosfera tensa e urgente, fazem a sala de cinema tremer completamente e acredito que estão relacionados com os vislumbres do protagonista, seus pensamentos e impasses. E isso nos leva a outro fator extraordinário no longa que é o trabalho sonoro, com certeza um dos melhores que já vi. Em Oppenheimer a experiência visual, juntamente com o trabalho de som, são impressionantes e necessárias para toda a grandeza que o longa transmite. Em contrapartida, temos o silêncio, que é utilizado de forma magistral e compõe uma cena brilhante do filme.

Contudo, temos a trilha sonora de Ludwig Göransson que conduz de forma bastante poética o longa e tem muita qualidade quando precisa dominar e estar presente em uma cena. É um trabalho realmente muito bom. Bem como, a utilização do preto e branco, que é bem-feita e ajuda o espectador a não se perder na cronologia e nos acontecimentos que envolvem os personagens e suas relações.

O filme busca explorar algo que é contraditório se pensarmos hoje, que é o fato de que uma bomba irá trazer a paz e isso é bem trabalhado durante alguns diálogos. O físico Oppenheimer, pai da bomba atômica, sabia do seu feito e do peso da sua criação. Ele sabia também que o mundo nunca mais seria o mesmo, embora seja mencionado constantemente no longa que, após a bomba atômica, não haveria mais guerras. No entanto, o que de fato aconteceu foram mortes e o medo eterno em qualquer cenário de guerra.

Definitivamente, Oppenheimer é brilhante em toda sua parte técnica e trabalha bem com o roteiro até certo ponto. Possui uma introdução um pouco exaustiva, mas compensa com uma abordagem interessante de fatos históricos e uma profunda discussão ética e filosófica. Um bom filme para fãs do Nolan e uma grande cinebiografia para os fãs do gênero. Você com certeza deve conferir Oppenheimer nos cinemas.

NOTA: 8/10

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